Chegou a newsletter de E eu com isso
Viver dá trabalho. O que é que a gente faz com os problemas?

Olá! Esta é uma newsletter que criei para falar sobre relações humanas, tretas da vida, psicanálise e saúde mental.
Por saúde mental, sugiro que imaginem algo muito além do difundido universo de doenças, transtornos, distúrbios, surtos e afins: saúde mental é mais feijão-com-arroz do que prato espatifado no chão; mais básico do que uma “anormalidade”. É o nosso dia a dia, o jeito como nos colocamos no mundo e nas nossas relações. É o conjunto das maneiras com que tentamos solucionar nossos problemas.
É que viver dá um trabalho danado, e nem sempre temos as ferramentas necessárias à mão.
A ideia, aqui, é trazer textos e entrevistas que discutam de que forma cada um de nós participa (inconscientemente ou não) dos próprios problemas. Em outras palavras, o que está ao nosso alcance, quais ferramentas psíquicas estão disponíveis, quais estão ao alcance de um braço beeeeem esticado, e quais vão exigir ajuda do outro.
Começo explicando o nome desta newsletter: E eu com isso?
A primeira pista está na organização do inconsciente pensada por Freud na década de 1920: uma estrutura psíquica dividida em três instâncias articuladas - o Eu, o Isso e o Supereu.
A segunda pista está na nossa fala: “E eu com isso?” é o que costumamos dizer diante de um fato ou situação nos quais não estamos envolvidos, ou quando nos defendemos e dizemos que nada temos a ver com isso.
Proponho o caminho inverso aqui: será que realmente estamos desimplicados naquilo que acontece ao nosso redor? Não nos importamos?
”E eu com isso?”, você pode se perguntar cada vez que assiste a uma notícia triste ou revoltante no jornal.
Ou quando presencia um comentário cheio de ódio.
Ou quando se sente a mais solitária das pessoas.
Ou quando tem a sensação de que o mundo parece estar andando pra trás.
A cada dia, um isso novo.
Isso que aparentemente não tem nada a ver com a gente, mas, ao mesmo tempo, está tão presente que parece ser de casa.
Falando disso, a gente se vê onde menos espera. Se reconhece com espanto, mas acolhe esta estranheza familiar.
O que há de cada um de nós em cada escolha?
Em cada relação com o mundo?
Em cada pensamento?
Em cada (in)decisão?
Este é o convite desta newsletter. Para que isso deixe o lugar de incômodo, de estorvo, de fora de nós mesmos.
Para que isso seja bem-vindo, mesmo nas horas mais inapropriadas.
Isso que fala da nossa vida e que nos faz tão singulares.
A cada edição vou trazer dicas de livros que tenham inspirado o post ou que dialoguem com ele de alguma forma.
Como 6 de maio foi aniversário de Freud (é também comemorado o dia do psicanalista!), começo esta seção com este conjunto de artigos que sustentam, em diferentes áreas, a pertinência do pai da psicanálise mais de 100 anos depois.
Por que Freud hoje? faz parte da coleção Grandes Psicanalistas, coordenada por Daniel Kupermann, e foi lançado em 2017, pela editora Zagodoni.
Um trechinho:
Sua relevância não se restringe ao campo da saúde mental (e física) e aos incontestáveis desdobramentos nessa área, mas se estende a todos os que se interessam por entrar em contato consigo mesmo de maneira aprofundada, responsabilizando-se por decisões e trazendo para si um grau mais profundo de autonomia (nem sempre confortável, reconheço, pois se esquivar, tal qual a criança foge da consequência dos próprios atos, pode parecer mais cômodo; exemplos com certeza não faltam nos noticiários e em nossa própria vida). O que Freud nos diz é que há limites - que vamos tentar burlar. Sempre haverá um preço a ser pago; não há como escapar da angústia, mas é possível fazer escolhas mais cuidadosas para si mesmo. E esse trabalho é possível e intransferível, às vezes difícil, mas possível de ser feito. Era assim há mais de um século e ainda é assim hoje.
Gláucia Leal (editora da revista Mente&Cérebro)
É isso, fico por aqui e convido você para as próximas leituras. O próximo post será uma entrevista com Contardo Calligaris, que nos deixou em 2021.
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Até a próxima!